sábado, 8 de abril de 2017

Digestão e Absorção dos Lipídios

Os lipídios são substâncias anfipáticas, que tem regiões hidrofóbicas e hidrofílicas. Eles são caracterizados pela baixa solubilidade em água e outros solventes polares e alta solubilidade em solventes apolares. Por esse motivo, a digestão é um pouco mais complicada, pois todos os "sucos" do corpo que auxiliam na digestão tem como base a água, e grande parte das enzimas digestivas trabalham em meio aquoso.
Os lipídios simples são ésteres de ácidos graxos com polialcoóis, sendo o principal poliálcool o glicerol. Unindo uma molécula de glicerol a três moléculas de ácidos graxos, forma-se um triacilglicerol (ou triglicerídeo), que é o principal lipídio da dieta.



Os lipídios complexos (como fosfolipídios, glicolipídios, etc) surgem da possibilidade de um dos grupamentos hidroxila (OH) da molécula de glicerol se ligarem à outros grupamentos.

Principais funções dos lipídios:

- Reserva energética: os lipídios são moléculas altamente energéticas, com o dobro (ou mais) de calorias do que os glicídios. Quando ocorre a “queima” de um grama de carboidrato ou de proteínas, são produzidos aproximadamente 4 kcal de energia. Já um grama de lipídio libera aproximadamente 9 kcal.
- Funcionam como isolante térmico sobre a epiderme de muitos animais. Por serem moléculas não hidratadas (sem água) e serem apolares, os lipídios evitam a perda de calor. Existe ainda um tipo de lipídio conhecido como cerídeos ou simplesmente ceras. Os cerídeos são constituídos por álcoois mais complexos do que o glicerol (monoálcoois superiores) e ajudam a evitar a desidratação de folhas e frutos.
- Isolantes elétricos (os lipídeos compõem a bainha de mielina).
- Carreadores de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K).
- Precursores de hormônios (prostaglandinas, substâncias sinalizadoras)

Alguns ácidos graxos essenciais devem ser inseridos na dieta, pois o corpo não é capaz de produzir, como o ácido aracdônico.

DIGESTÃO

Como dito acima, o fato de os lipídios serem hidrofóbicos dificulta o encontro com as enzimas digestivas, que trabalham em meio aquoso. Primeiro, há necessidade de diminuição do tamanho das partículas de lipídios. Essa diminuição inicial acontece por meio de fatores físico-químicos, como a mastigação, o peristaltismo, o ataque ácido no estômago, e nesses momentos os lipídios são separados das demais substâncias ingeridas no alimento (glicídeos, proteínas).
É importante citar uma fase importante na digestão chamada fase cefálica, que ocorre antes que a comida chegue ao estômago, e envolve a preparação do organismo para a alimentação e a digestão. Os estímulos do pensamento, da visão e do cheiro estimulam o córtex cerebral e, a partir disso, há a preparação dos tecidos anexos (fígado, pâncreas) e estimulação da secreção dos sucos gástricos.
Na boca, durante a mastigação, existem enzimas que iniciam o processo digestivo: a amilase salivar (como visto na publicação sobre digestão e absorção de carboidratos) e a lipase lingual. A lipase lingual "ataca" os triacilgliceróis, entretanto, não tem muita eficiência na digestão de lipídios em indivíduos adultos. Sua atividade é mais importante em neonatos (recém nascidos), auxiliando na digestão das gorduras do leite.
No estômago, há ação do suco gástrico e peristaltismo. A lipase gástrica também auxilia o processo de digestão, porém só consegue catalisar em torno de 10% dos lipídios ingeridos, por isso, é uma enzima pouco eficiente.
As células do duodeno (porção inicial do intestino delgado) detectam a presença do alimento e produzem a secretina em resposta ao pH baixo (devido ao H+ do HCl secretado no estômago) e à presença dos ácidos graxos. Esse hormônio induz a secreção de um suco rico em bicarbonato (HCO₃⁻) pelo pâncreas, com o objetivo de neutralizar/tamponar o intestino, devido à presença de ácido.
As células intestinais também produzem um outro hormônio, a colecistocinina (CKK), que induzem a secreção e ejeção da bile pelo fígado. A CKK também atua no pâncreas, induzindo a produção de um suco enzimático que também auxiliará na digestão dos lipídios.



Ocorre, então, uma hidrossolubilização parcial dos lipídios pela ação da bile no intestino. As gotículas de gordura vão sendo desfeitas por ácidos e sais biliares de "ação detergente", que são surfactantes/tensuativos, com capacidade de alterar a tensão superficial da água. Por isso, as células são hidrossolubilizadas aos poucos. Nesse momento, as gotículas de gordura vão sendo quebradas, formando pequenas micelas, mais fáceis de ser digeridas por ação enzimática.
Apenas após esse processo de hidrossolubilização parcial que os lipídios estarão prontos para sofrer hidrólise enzimática, feita por enzimas pancreáticas do suco pancreático. A lipase pancreática, por exemplo, age junto com a co-lipase na digestão dos triacilgliceróis. A co-lipase auxilia a lipase pancreática a se fixar à micela. As enzimas fosfolipases "atacam" os fosfolipídios. A colesterol-esterase cliva e separa o ácido graxo do colesterol.



O processo de absorção é feita por difusão simples por a membrana ter a mesma propriedade físico-química dos lipídeos. A partir dos monoglicerídeos, os ácidos graxos livres são absorvidos e podem se difundir para o enterócito.

Os ácidos graxos de cadeira longa (AGCL) assim como os monoglicerídeos, podem ser utilizados no complexo enzimático que é chamado Acil-coA sintetase, que se esterificam de novo formando um triacilglicerol dentro do enterócito. Esses triacilgliceróis serão a base para formar uma lipoproteína que é difundida para a linfa (quilomícron), e apenas os ácidos graxos de cadeira curta (AGCC) e o glicerol vão para o sangue.

OBS: O medicamento XENICAL inibe a ação da lipase pancreática e da co-lipase, impedindo a absorção de triacilgricerol (TAG).

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